quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Vivendo o presente

Sonhando hoje ao seu lado
vou arquivando o passado

E sem pressa ou apuros
vou construindo o futuro

Meio bahiano, bem devagar
colocando a cabeça no lugar

Clima ardente, simplesmente
Estou vivendo o presente

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Soneto de despedida - I


De tudo que eu vivi bem nesta vida
O passado é lembrança da acolhida
O futuro, esse aguarda a sua vinda
E o presente vê sinal de despedida

Segue o coração, dor cega, abatida
Relembro a transparência atrevida
Bem a frente uma garrafa de bebida
Vinho nobre, confissão curta, ferida

Se em ti sinto alegria e me condeno
Sou estranho agora, é o que enceno
Ao partir-mos, porém, nenhum aceno

Então ouço um silêncio que é incerto
Tão distante a sentirei aqui bem perto
E findo esse amor sequer serei liberto

sábado, 31 de julho de 2010

Poemas que não foram para o lixo


Nessa prisão sem muros,
E de amarras sem laços
Desenho minha sombra
Não lembro meus traços

Ergo-me entre escombros
Coletando tantos cacos
Juntando tantas sobras
Criando pequenas obras

Caminho sem pegadas
Ombro a ombro, solitário
E com memórias largadas
Escrevo esse inventário

Damas e pérfidos bichos
Buquê de tolices, dilemas
Descrevo nesses poemas
que não foram para o lixo

sábado, 10 de julho de 2010

Saudade e solidão

Nada serve a memória
A cada dia, a cada hora
a saudade me destrói
a saudade me devora
a saudade me apavora

A saudade é Senhora
A solidão não minora
O agora é silêncio
Ausência sobrou, ficou
Quando fostes embora

Solidão virou companhia
Memória de sua alegria
Que em tudo de bom a vejo
E tão quente está o desejo
Que essa paixão não esfria

A cada instante pressente
nessa noite de lua a agonia?
Distante a luz tão presente
O vento frio sopra na rua
e invade minha vida vazia

terça-feira, 22 de junho de 2010

Alice na pós graduação













O coelho (mercado) louco
elegante anda ofegante
Controlando seus passos
no ritmo tic tac tic tac
de seu relógio de bolso

A rainha (orientadora) vermelha
corre e não sai do lugar.
Quem segurará sua mão?
- Há de correr bastante
e ficará onde está.

Nesse mundo veloz
e estressante, guarde sua voz.
O gato (objeto) de Cheschire questiona
caminhos que não conhecemos.
Estamos sempre metidos
em situações que não sabemos.

Oh! Alice (mestranda),
lembre-se de onde veio.
Sorria com o que esta porvir.
E se tiver que ir ao divã,
não compre tranquilidade
em Ritalina ou Diazepan.


Nesse mundo de metáforas,
tenha na bolsa conceitos
e testes empíricos
muito bem fundamentados
Sem eles tu ficarás,
de mãos e pés atados.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Almelina deixou de ser Amélia*




Senhoras, Senhores

Das mães não há pieguices a contar
Tampouco aludir glórias efusivas
Fazem apenas o que sabem, ou podem
Heroísmo? Só o silêncio do cotidiano.

Bem antes

Soube a uns meses, pouco tempo
Nascer foi arriscado, quase trágico
Trinta horas de parto, quase despedida
Sem nascer quase morri, quase matei

Longe de hospitais, eletricidade
Tias, avós, com até quinze filhos!
E minha mãe menos. Apenas sete!
Mulher para parir... para servir

A um tempo

Ela não programou a vida, ou vinda
Mas sabia que viver é desafio
E se questionasse... A quem!?
O que mudou? Só ela sabe!

Eu sequer sei de onde veio a força
Sequer pareceu em si mesma forte
Rainha mesmo, só no sobrenome
Mas Almelina deixou de ser "Amélia"

E depois

Soube por ela, por mim: viver é difícil
Caminhar sem mapa ou rota, por anos
Forjar escolhas. Sobrevivemos! Como?
Lutando! Pois viver é o sentido da vida

Sem pesares ou pena a cumprir
Ela segue viva. Não morta-viva
Sem discursos, poesias, festas, etc.
Privadamente, fez seu feminismo

*À Almelina Rainha de Souza (my mother, e que adora Clara Nunes)
Deivison Souza Cruz
27 de Abril de 2009

As palmeiras da Avenida Antônio Carlos*

As palmeiras imperiais da Av. Antônio Carlos
Com suas altas folhas ao vento
Ao céu crescem imperceptivelmente
Este é seu único movimento

Por um momento, por excesso ou acidente
O transito, de veloz passa lentamente
As palmeiras, de invisíveis ficam imponentes
Tão altivas, de sua altura olham o lamento.

Nós, tão rápido por aqui passamos
Não viveremos tanto quanto elas
Sem pressa como estão, e nós intensamente.
Cada vez mais rápido, e transitoriamente.

Pelo tempo ou por máquinas atropelados
Palmeiras, pedestres e motoristas
Fazemos parte deste trânsito
Como um imperativo a vista que ignoramos

* 22 de agosto de 2007

Desejo subjuntivo*

Queria estar longe
Queria estar perto
Queria estar errado
Queria estar certo
Queria te esquecer
Queria agora te ver

Queria saciar o desejo
Desejo de beijar o teu beijo
Enlouquecer minha alma
E perturbar minha calma
Calma que só longe de ti
E que mais longe mais sofro
E que mais sofro mais morro

E distante busco socorro
Para estar em seus braços
Fazer loucura sem trauma
Mulher que junto imagino
E sonho perder a sanidade
Para estar ao teu lado
Ao seu prazer e vaidade

*Deivison Souza Cruz
27/10/2007

Aos olhos que riem

O céu desperta. É som de aurora
E eu a margem, há dias e horas
(In)consciente estado, insone e triste
Relembro bem, (in)feliz memória
Um olhar que brilha como sol
E dissolve suave feito arco-íris

Um “olhar que ri” em mil encantos
Sem igual a outros, já esmaecidos
Menores e tão vãos, hoje esquecidos
Perto à mulher, que amei tanto
Cujos olhos riem completa festa
E a ausência ao qual saudade resta

Suporto dor sem tragédia ou glória
Presente um passado sem história
Vida que imperfeita tece estranha
Perdas seguem, enganos sem ganho
Caminho preso em livre experiência
Nesta fria ilusão, minha existência

24 de junho de 2006

Soneto nº 2: Coração migrante*

Seu coração é um coração migrante
De passagem está, e um pouco adiante
Agitado ainda que calmo o semblante
Seu coração é um coração migrante

Procura um lugar, não para ficar
Importa em ir, quando quer voltar
Longe ou presente, e que faz sonhar
Que envolve amigos em fugaz olhar

Migrante coração, veio clandestino
Fez sua história, roteiro e destino
Mil desafios e vitórias, imagino.

Pelo que é, é bela, a vida inteira
De paixão não falsa, mas verdadeira
Anseia o mundo, mas sem fronteiras

*Deivison Souza Cruz - 29 de jun de 2009

Risco e encontro


Mergulho em um mar gelado
Por entre montanhas e abismos
Por entre estranhos e amigos
Entre desertos de pessoas...

Por mulheres más, ou boas...
Nem quentes, tampouco frias
Emerjo-as da tristeza ao tom de alegria
Divirto-as em verso, versificadamente

A estas de afeição impessoal
De humor social e dor venal
Todas movidas por ambições
Humanas, mundanas e humanistas

Eu, em poucos metros de terreno
Se a vida prega peças, enceno
Beberei vinho, saliva e veneno
No beijo casto, obsceno, e ameno

13 de maio de 2009
Deivison Souza Cruz

Cantiga dos fofoqueiros


Enforcados na língua, de lombriga
E eís que no inferno, mais comprida
Têm sido a avenida dos fofoqueiros
Seja moleque ou rapariga, d'uma figa
Como é fútil e mediocre a sua vida

Só tamanho, mal saído dos cueiros
Crê gozar com órgão sexual alheio
Mal se atém, ao olhar a fechadura
Há muito já perdeu a compostura
E levará um belo chute no traseiro

Ainda nas fraldas, cerra o agoureiro
Cala-te! Boca menos útil que bueiro
Mas calado, porém ridícula figura
Admirado será por bestas criaturas,
Igual a tu zurram, tangem ferraduras.

E sendo apenas a merda que flutua
Contente-se, pois ainda que evolua
Em metrópole, província, ou aldeia
Persiste vil e ignóbil, fingindo nobre
Encobre teu vazio com a vida alheia

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Chuva





Suas
lagrimas são como chuva
Sobre
a terceira ponte

Um
risco... um deslize... a vida...
Sempre
insegura, mas firme

Como
um fio de esperança
Uma
chuva que renasce

E
que forma um arco-íris
Sob
os vãos da terceira ponte

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Brilho dos sonhos*









Vejo brilho nos olhos,
De quem vive por sonhos
Então não perca os teus
Iluminam teu caminho
Por entre a penumbra
Ou cercada na escuridão

Sonhos são, se sozinha
Firmeza de mão amiga
Sopro do vento, sem barco
Guia sem leme, ou vela
Não prendem a realidade,
e também, nem além dela

Apenas luz sem lâmpada,
Energia viva, cintilante
Um olhar à frente, e errante
De erros e acertos utópicos
Para revolucionar o mundo
Dentro de nós, nos trópicos



Homenagem a Adriana Menezes, um sonho vivo
E a
Che - Um sonho eterno



* 31de agosto de 2007
** Cientista Social - UFES
Mestrando em Ciência Política - UFMG




SEM AMIGOS, SEM INIMIGOS*


Sem amigos, sem inimigos.
Agora conte só com você
Sem amigos, sem inimigos.
Do que é capaz de fazer?



Sem amigos, sem inimigos.
Se sabe, ou se quer saber...
Sem amigos, sem inimigos.
Faça o que é preciso fazer
.



Sem amigos, sem inimigos.
Não diga, ninguém irá ver
Sem amigos, sem inimigos.
Em quem você pode crer?



Sem amigos, sem inimigos.
Tão longe, para que sofrer?
Sem amigos, sem inimigos.
Será capaz de (sobre)viver?



Sem amigos, sem inimigos.
O universo não conspira por você!
Sem amigos, sem inimigos.
Então, será capaz de vencer?



Sem amigos, sem cinísmos.
Distante do que pensa ser
Sem amigos, sem inimigos.
Preso ou livre, você pode ser.



Sem amigos, sem inimigos.
É o melhor que pode fazer?
Sem amigos, sem inimigos.
Conhecerá então o seu poder



Sem amigos, sem inimigos.
Sabe que faz mesmo é por você

Sem amigos, sem inimigos.
E assim será o que pode s
er




*Deivison Souza Cruz

(escrito em 29/03/07)

Pelas suas mãos*



A igreja que guiar-me, irei.

O vinho de tua taça, beberei

A prece que repetir, rezarei

E qualquer prova enfrentarei


E em teus braços, abraços

E em teus beijos, desejos

E sem coragem, ou crença

Bastaria a tua presença


Para que eu viva, ou morra

Que por tudo lute, ou corra

Caso não alcance, e cance

Valerá a ilusão, e a poesia


E tanto mais a vida valeria

Por sentimento que sentisse

Se um segundo viesse a mim

Certa que de tí, estou a fim

E restaria terna, feliz alegria


E sem desprezo, ou honraria

Ao menor aceno de tua mão

Aguardo sinal de sim, ou não

Uma mulher*


Vem sem que eu pense


Morde meus lábios

Beija minha boca

Envolve meu corpo

Vira minha fome


Sem que eu pense some


Faz mundo sem chão

Tão frio coração

Reduz-me a amigo

E de amante a irmão


27 de Julho de 2008

Haicai da estrela cadente







Surge a estrela cadente

E em cadência

... incandescente

Candente...

Decadente...

Some!

Sinopse*


A vida é um cinema
Vejo a morte passar
Filme descontinuo
Uma fita rompendo
Parado, correndo
Noite, chuva caindo
Movimento, morto
Uma fita rasgando
E ninguém chorando
Algumas emanam medo
Como se lessem jornal
Deste enredo cotidiano
De um dia normal

No chão, poças de sangue
Sacrifício de animal
Deste filme sem herói,
Bandido ou policial
É só mais um corpo
De um dia normal
É só mais um porco
Sacrifício de animal

Morto, por que nascer?
Segue o dia a noite, sem ver
Amor, Infância, cadê?
Armas a entreter
Sonho, fantasia, sobreviver 
Qual a questão, se não há ser?

Pólvora, cheiro, barulho
Vergonha, medo, orgulho
Sem identidade, bagullho
sem dinheiro, telefone
Pele negra, crime
Suspeição, reação?
É rir, lembrar, esquecer
Madrugada sem amanhecer
Céu azul brilha inteiro
Seca o sangue das poças
Ao passar das moças
Ao beijo das moscas
Gotas rubras nos bueiros
Barulho surdo de carros
Silêncio sem boca, zombeteiro
O maldito escárnio bizarro

.....................
Um informe policial
Notícia sensacional,
Virando esta página
De um dia normal
.....................
Páginas mortas
Filme vivo e real
Mil mortes jovens
Tudo bacana e legal

.....................
Lí a pagina
Ví o filme
Ví a cena
Sinto o cheiro


.....................
Drama, comédia, miséria!
Mais um dia normal
-------------
27 de novembro de 2007

Pecado



Não estou no altar dos santos e maridos
Não estou tão baixo, ao lado dos mendigos
Não estou no colo de são francisco,
Tal qual moleque jesús-cristinho
Ao seu lado vivendo o carinho
Não, não ficarei em teu caminho
Viverei pelo desejo que preservo,
Não serei teu dono, nem teu servo

Sorverei seus lábios, morderei teu beijo
E comerei um óstia em tua nuca
Sentirei o calor ofegante de tua boca
E trocaremos caricias como nunca
Por ti rezarei em qualquer cama
Pelo louco prazer que a inflame
E nas doces poesias que declama
Direi palavrões dos mais infames
Estando em ritmo calmo e amor insano
Farei de ti pecado, sagrado e profano
E adentrando o templo de tuas pernas
Bendizei as cãibras. Não são eternas.

18 de Maio de 2009

Anti-crítica







Escrevo com emoção
A cabeça e o coração
"Poesia confessionário
De pecado imaginário"
E se me revelo é por que
Sei tão bem quanto você
Navegar nesta semântica,
De inspiração romântica
Mulher manhosa, altiva
Que é diva em meu divã
Cuja proximidade emotiva
E não troco por glória vã
E sei que amores invento,
E outros existiram de fato.
Só valiosos, todavia
Valem uma poesia

29/05/2009

Palhaço




Olhou para mim, não me viu
E riu de mim. Não sorriu
No momento não percebi
Então vejo que mereci
Sofrer ali pouco caso
Se fiz papel de palhaço

Então desmancho, disfarço
Um coração de sentimento
Espirito solto no vento
Vira tormento em mim,
Tormenta, redemoinho
Fúria solta no espaço

E tão longe, distante parti
Sinto calor n'outros braços
E sempre, lembrando de ti
Bebo uma taça de vinho
lembro o perfume, e sozinho
Imagino teu corpo, e amassos

* 5 de outubro de 2007
** Cientista Social (UFES) mestrando em ciência política (UFMG
)


Surrealismo poético











Os relógios de Dalí
Diluiram na minha frente
Os ponteiros giram soltos
Veloz e precisamente

Vivo a sensação do tempo
Completamente afetado
No presente e no passado
Há um movimento parado

Preso na engrenagem solta
Sem estrutura na mente
No compasso, o passo rápido
Cada vez mais lentamente

Então vejo cães amarelos
Levando as torres do WTC
Macho e femêa, magrelos
Pessoas pagando para ver

Notebooks viram panquecas
Nas bordas da escrivaninha
Dois mouses na biblioteca
Concentrados, lendo Caminha

A fantasia surreal
Termina meio sem fim
E imagino ao natural
Livre dentro de mim

28 de novembro de 2007