terça-feira, 14 de outubro de 2014

Ulisses e a Sereia



Ulisses ao desejo poderia dar vazão
Se as cordas pudessem ser cortadas?
Ele ao mar lançar-se-ia por paixão
Se as mãos lhe fossem libertadas?

Ele se entregaria ao ser de magia,
em que seu corpo tudo contagia?
Então qual lenda Homero contaria,
se tal romance em tudo o contraria?

Ao drama de Ulisses se está atento,
mas lembremos, não está sozinho
Há sim uma Sereia em seu caminho
Que vive de igual seu sofrimento

Separados desejam-se nesse mundo
Mas a natureza os traiu. Será justo
Que se beijem à tona, ou ao fundo
Mas jamais possam dormir juntos?

Ser demoníaco é Sereia, me disseram
Aqueles que a ela ouvidos não deram
Mas se a desejo, me entrego à trama
Ouço a voz solitária, sinto o drama

Ela deseja a ele, e viveria fora d’água
Ele não é peixe, se afoga em mágoas
Ela se sufocaria se respirasse o ar
E ele morreria, pois não é ser do mar

Ulisses largaria o leme, e a tripulação
Abandonaria, esqueceria sua missão
Mergulharia, e atrás ficaria a solidão
E fugiria assim de toda a atribulação

Se a lembrança da terra é só espanto
E o encanto do canto leva ao pranto
E se a água não basta e se incendeia
Quer lançar-se nos braços da sereia.

Que dilema há que a lenda margeia?
Escapam dele Ulisses e a Sereia?
Do dueto de amor, se ouvirá a voz?
Estamos nós, Sereia e Ulisses, a sós?

12 de junho de 2009

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Jogue uma carta

Ninguém escolhe o destino
Abandone-se, se falta tino!
Ir na direção certa é fácil.
Difícil é por-se nos trilhos.

O jogo nunca esta ganho
Ou totalmente perdido.
Mais vale que esteja vivo,
que morto, mesmo ferido.

Se é poeira, vento leva,
Se montanha, inamovível.
Não vamos onde queremos.
Ficamos? Sequer podemos!

O dífícil jamais se faz
Ao bel prazer do desejo
Pressente futuro passado?
São turvos. Não os vejo.

***

Desça logo desse muro.
Vê o que passa ao lado?
A vida te dá um murro
enquanto curte teu fado.

Resigna-se quem desiste.
Quem resiste ainda existe.
Carregue o fardo. Não pare.
Encare. O medo mascare.


Navegue a tempestade.
Acorrente-se a liberdade,
Descarte a carta marcada.
Jogue sempre com vontade


A verdade é sem truques
E a vida é sem saudade.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

CRITICRISE

Cidades insustentáveis
Cidadania insidiosa
Implosões explosivas

Descolados deslocados
Trânsito intransigente
Normal morna anomia.

Destacáveis descartáveis 
Pareceres perecíveis
Perenes civis?

sábado, 8 de setembro de 2012

Soneto de despedida - II

Ela matou o amor em si, profundamenteE não restando sequer uma semente
Cresce ardor ao sol e lua, inclemente
Voltou a dor do amor a ti, bem lentamente.

Então o tempo passou sem ter esperança
E não há chuva, ou som, ou haver tua dança
Estando tu e eu sem par, descompasso a parteNós em desarranjo tal, sem conjunto ou arte.

A sós, ainda que vivêssemos mil solstícios,
Há pedaços de virtude em cada vício,O nosso fim segue tal qual fosse início.

Vivemos os anos, nem uma centena
nosso amor luta, resiste as duras penasao sentir amada, sem cantilenas.

09/set/2012

domingo, 26 de agosto de 2012

Fugir para frente

Relativity 1953 Lithograph Escher

Caminhando

Na vida só se está perdido
Quando se teima em recuar
Não há derrotado, ou abatido
Enquanto há forças para lutar

É preciso fugir para frente
mesmo sem planos em mente.
Há um mapa para se encontrar
se há um sonho, a respirar.


Então

Nos olhos de uma criança
O futuro é nebuloso, e incerto
Os dias passam em uma dança
em um destino distante, e perto

Cada presente um sentido
Em que se possa caminhar.
Cada momento, dê ouvido
Ao que se está a passar

Veja

Sempre há o que aprender
Mas não há manuais a seguir.
Há sempre que se escolher
Para onde se deseja ir.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Just watch the show


The machine is connected to lie
How can speak without spying?
Lied as instinct, before thinking
Sweet look became evil eye.

Many masks. And she faceless
Many smiles. And she graceless
A sand castle or house of cards
Fleeting beauty, mind retarded.

Chained into words fragile
Caged birds, before agile
To tell the truth unbearable:

— Time passed. Is irreparable!

A draft of living dead
Just watch the show.


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**
Basta ver o show**

A máquina ligada para mentir
Não consegue falar sem espiar?
Mente por instinto, antes de pensar
O doce olhar virou mau olhado.

Muitas máscaras. E ela sem rosto
Muitos sorrisos. E ela sem graça
Um castelo de areia ou de cartas
A beleza fugaz, a mente retardada.

Acorrentada em palavras frágeis
Aves em gaiolas, antes ágeis.
Ao dizer a verdade insuportável:
— O tempo passou. É irreparável!

Um projeto de mortos-vivos
Basta ver o show.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Redenção

Tenho que encontrar sangue no meu álcool
Tenho que encontrar o mangue em meu mar
Tenho que encontrar o sagrado nesse altar
Tenho que encontrar a África em Gibraltar

Por todo o mal sagrado, e ainda amado
Tenho que encontrar o doce nesse amargo
Junto, encontrar o sangue em meu mangue
E que, por dentro, se destrói, constrói

Então que venha a mim, mundo sem fim
Felicidade em tudo, e um fim sem mundo
Ou significado, essa mandala, desobediência
Por que vivo sem nexo, essa existência

Por tudo que é de acerto, peço clemência
Por tudo que é de errado, essa existência
Por tudo que é de incerto, e sem decência
Então salvo em prantos, nessa demência

Cordas em atraso, relógio em forca, tolo
E o tempo busca o afago, nesse fado
Carrego em tudo em mim, eterno fardo
E dê-me, por tudo em fim, nada de mim

sexta-feira, 3 de junho de 2011

terça-feira, 19 de abril de 2011

Caminhando

Caminhe, tempo nosso
E segure nossas mãos
Dançemos lentamente
Sendo luz na escuridão

Depois de tantos nãos
Caminhando eu posso
Sigo vivo, não lamento
Nas trevas, um trovão

Nessa terra, nesse chão
Nesse sonho uma ilusão
E na arte uma verdade
Na paisagem de mentira

Que desperta minha ira
E apura a minha mira
E só atiça meu desejo
Faço lista de despejo

Caminho, e ando atento
Uma dor e um tormento
No anestésico momento
Um carinho e um alento

Vago, vagas, vagueando
Vôo, e o mar esvaziando
Um vazio sem tamanho
Na praia, vou andando

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Vivendo o presente

Sonhando hoje ao seu lado
vou arquivando o passado

E sem pressa ou apuros
vou construindo o futuro

Meio bahiano, bem devagar
colocando a cabeça no lugar

Clima ardente, simplesmente
Estou vivendo o presente

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Soneto de despedida - I


De tudo que eu vivi bem nesta vida
O passado é lembrança da acolhida
O futuro, esse aguarda a sua vinda
E o presente vê sinal de despedida

Segue o coração, dor cega, abatida
Relembro a transparência atrevida
Bem a frente uma garrafa de bebida
Vinho nobre, confissão curta, ferida

Se em ti sinto alegria e me condeno
Sou estranho agora, é o que enceno
Ao partir-mos, porém, nenhum aceno

Então ouço um silêncio que é incerto
Tão distante a sentirei aqui bem perto
E findo esse amor sequer serei liberto

sábado, 31 de julho de 2010

Poemas que não foram para o lixo


Nessa prisão sem muros,
E de amarras sem laços
Desenho minha sombra
Não lembro meus traços

Ergo-me entre escombros
Coletando tantos cacos
Juntando tantas sobras
Criando pequenas obras

Caminho sem pegadas
Ombro a ombro, solitário
E com memórias largadas
Escrevo esse inventário

Damas e pérfidos bichos
Buquê de tolices, dilemas
Descrevo nesses poemas
que não foram para o lixo

sábado, 10 de julho de 2010

Saudade e solidão

Nada serve a memória
A cada dia, a cada hora
a saudade me destrói
a saudade me devora
a saudade me apavora

A saudade é Senhora
A solidão não minora
O agora é silêncio
Ausência sobrou, ficou
Quando fostes embora

Solidão virou companhia
Memória de sua alegria
Que em tudo de bom a vejo
E tão quente está o desejo
Que essa paixão não esfria

A cada instante pressente
nessa noite de lua a agonia?
Distante a luz tão presente
O vento frio sopra na rua
e invade minha vida vazia

terça-feira, 22 de junho de 2010

Alice na pós graduação













O coelho (mercado) louco
elegante anda ofegante
Controlando seus passos
no ritmo tic tac tic tac
de seu relógio de bolso

A rainha (orientadora) vermelha
corre e não sai do lugar.
Quem segurará sua mão?
- Há de correr bastante
e ficará onde está.

Nesse mundo veloz
e estressante, guarde sua voz.
O gato (objeto) de Cheschire questiona
caminhos que não conhecemos.
Estamos sempre metidos
em situações que não sabemos.

Oh! Alice (mestranda),
lembre-se de onde veio.
Sorria com o que esta porvir.
E se tiver que ir ao divã,
não compre tranquilidade
em Ritalina ou Diazepan.


Nesse mundo de metáforas,
tenha na bolsa conceitos
e testes empíricos
muito bem fundamentados
Sem eles tu ficarás,
de mãos e pés atados.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Almelina deixou de ser Amélia*




Senhoras, Senhores

Das mães não há pieguices a contar
Tampouco aludir glórias efusivas
Fazem apenas o que sabem, ou podem
Heroísmo? Só o silêncio do cotidiano.

Bem antes

Soube a uns meses, pouco tempo
Nascer foi arriscado, quase trágico
Trinta horas de parto, quase despedida
Sem nascer quase morri, quase matei

Longe de hospitais, eletricidade
Tias, avós, com até quinze filhos!
E minha mãe menos. Apenas sete!
Mulher para parir... para servir

A um tempo

Ela não programou a vida, ou vinda
Mas sabia que viver é desafio
E se questionasse... A quem!?
O que mudou? Só ela sabe!

Eu sequer sei de onde veio a força
Sequer pareceu em si mesma forte
Rainha mesmo, só no sobrenome
Mas Almelina deixou de ser "Amélia"

E depois

Soube por ela, por mim: viver é difícil
Caminhar sem mapa ou rota, por anos
Forjar escolhas. Sobrevivemos! Como?
Lutando! Pois viver é o sentido da vida

Sem pesares ou pena a cumprir
Ela segue viva. Não morta-viva
Sem discursos, poesias, festas, etc.
Privadamente, fez seu feminismo

*À Almelina Rainha de Souza (my mother, e que adora Clara Nunes)
Deivison Souza Cruz
27 de Abril de 2009

As palmeiras da Avenida Antônio Carlos*

As palmeiras imperiais da Av. Antônio Carlos
Com suas altas folhas ao vento
Ao céu crescem imperceptivelmente
Este é seu único movimento

Por um momento, por excesso ou acidente
O transito, de veloz passa lentamente
As palmeiras, de invisíveis ficam imponentes
Tão altivas, de sua altura olham o lamento.

Nós, tão rápido por aqui passamos
Não viveremos tanto quanto elas
Sem pressa como estão, e nós intensamente.
Cada vez mais rápido, e transitoriamente.

Pelo tempo ou por máquinas atropelados
Palmeiras, pedestres e motoristas
Fazemos parte deste trânsito
Como um imperativo a vista que ignoramos

* 22 de agosto de 2007

Desejo subjuntivo*

Queria estar longe
Queria estar perto
Queria estar errado
Queria estar certo
Queria te esquecer
Queria agora te ver

Queria saciar o desejo
Desejo de beijar o teu beijo
Enlouquecer minha alma
E perturbar minha calma
Calma que só longe de ti
E que mais longe mais sofro
E que mais sofro mais morro

E distante busco socorro
Para estar em seus braços
Fazer loucura sem trauma
Mulher que junto imagino
E sonho perder a sanidade
Para estar ao teu lado
Ao seu prazer e vaidade

*Deivison Souza Cruz
27/10/2007

Aos olhos que riem

O céu desperta. É som de aurora
E eu a margem, há dias e horas
(In)consciente estado, insone e triste
Relembro bem, (in)feliz memória
Um olhar que brilha como sol
E dissolve suave feito arco-íris

Um “olhar que ri” em mil encantos
Sem igual a outros, já esmaecidos
Menores e tão vãos, hoje esquecidos
Perto à mulher, que amei tanto
Cujos olhos riem completa festa
E a ausência ao qual saudade resta

Suporto dor sem tragédia ou glória
Presente um passado sem história
Vida que imperfeita tece estranha
Perdas seguem, enganos sem ganho
Caminho preso em livre experiência
Nesta fria ilusão, minha existência

24 de junho de 2006

Soneto nº 2: Coração migrante*

Seu coração é um coração migrante
De passagem está, e um pouco adiante
Agitado ainda que calmo o semblante
Seu coração é um coração migrante

Procura um lugar, não para ficar
Importa em ir, quando quer voltar
Longe ou presente, e que faz sonhar
Que envolve amigos em fugaz olhar

Migrante coração, veio clandestino
Fez sua história, roteiro e destino
Mil desafios e vitórias, imagino.

Pelo que é, é bela, a vida inteira
De paixão não falsa, mas verdadeira
Anseia o mundo, mas sem fronteiras

*Deivison Souza Cruz - 29 de jun de 2009

Risco e encontro


Mergulho em um mar gelado
Por entre montanhas e abismos
Por entre estranhos e amigos
Entre desertos de pessoas...

Por mulheres más, ou boas...
Nem quentes, tampouco frias
Emerjo-as da tristeza ao tom de alegria
Divirto-as em verso, versificadamente

A estas de afeição impessoal
De humor social e dor venal
Todas movidas por ambições
Humanas, mundanas e humanistas

Eu, em poucos metros de terreno
Se a vida prega peças, enceno
Beberei vinho, saliva e veneno
No beijo casto, obsceno, e ameno

13 de maio de 2009
Deivison Souza Cruz